quarta-feira, 29 de outubro de 2008

acordado, porém ausente.



sentado, devidamente.
aberto, o conjunto de palavras.
começo.
o ritmo varia de um a outro autor,
para um ou outro leitor.
um fluxo de tinta,
absorvida, pelo pensamento.
imagens são formadas num ponto
abstrato, entre mente e papel.
fronteira, matéria-etérea.
cenas se formam na tua frente,
cortinam o real.
vagueia, o tempo não mais corre.
sua existência é alma-câmera,
expectadora.
tudo é volátil.
concreto, só tinta presa ao papel.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

correio atrasado

Eis que te digo, leitor desavisado, o porquê do título.

Sei que não é para tanto, mas apesar da poeira acumulada no aposento, vamos nos dar a sentar nestas confortáveis cadeiras de madeira escura e forro de couro batido. O encarregado fará o favor de servir-nos uma cerveja gelada: tin-tin! É claro que deves estar perguntando que diabos estou a me sentar para ouvir o que não sei, não me interessa e, invariavelmente, não me acrescentará nada. Pois é por isso que tive a impressão que precisaria de uma cerveja para prender tua atenção. Mas pense aqui comigo por um instante, enquanto falo, tu bebes.

Amanheceu o dia. Preciso levantar-me, tomar um café, talvez fumar um cigarro, apreciar a vista. Até retomar novamente o afazer cotidiano e responsabilidades. Abro o computador, Firefox, Gmail. Lembra aquele trabalho que era para ontem, mas ainda não recebestes o material? Pois é, ainda não chegou. Passou do prazo. Já E-R-A. O que fazer? Trabalha, trabalha, trabalha... fim do dia. Antes de desligar tudo, inclusive mim mesmo, abro o correio - eletrônico -, e o que aparece? O e-mail-do-material-que-era-pra-ontem! Abro ou não abro? Pára tudo. Chegamos ao ponto chave desta narrativa-explicação. Se estás aqui é porque a curiosidade está te fazendo cócegas: e é isso. Você está nesse momento abrindo o e-mail-do-material-que-era-pra-ontem, subjetivamente. Uma carta atrasada, de prazo estourado, nada te serve, porém a curiosidade por saber o que está ali contido: o novo, o estranho, velho, chato, ranzinza, enrolador, tudo isso é instigante. Ah, acho que já passou da hora de dizer que se não tens curiosidade alguma, então podes pegar tuas coisas e deixar o copo, pois nada daqui te servirá. Mas divago, voltando ao ponto, já que passada a hora de ir-se surge a pergunta que é conhecida: páro ou continuo? Continuas. Qual o ponto de escrever isso tudo? Pergunte a Dostoievski, ou melhor, às suas palavras. Não há objetivo outro que burilar. Pensar, refletir, expandir a maneira de pensar. E páro por aqui. A cerveja acabou, o ponto, posto, e a sinuca me espera.

Passar bem.