sábado, 28 de abril de 2007

desprezo

Nunca imaginei que uma relação de desprezo pudesse ser proveitosa.

Primeiro tinhas desprezo por mim. E eu, desgosto - substantivo, e não verbo. Aos poucos entrei na brincadeira também. Só que contrariadamente desconfortável. Em mais outros poucos entendi a tua. De desgosto passei a desgosto-desprezo. A brincadeira era deveras sarcástica, e disso tinha pouco até então. Os adjetivos ácidos e pejorativos constituíam o pequeno dicionário de palavras trocadas. E as provocações, o veículo das tais. Inconscientemente, estudei e aprendi o vocabulário, a dinâmica e estrutura de diálogo. O contragosto tendeu a zero. Nessa tendência surgiu a indiferença. E tomei gosto pelo desprezo.

Agora entendo. É a harmonia.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

não-tenho-telhado-porque-não-chovo

A casa queimada da monte alegre
Tem pintura, porém telhado.
Morarei ali, onde não chove.
vide tristeza-angústia.
Ou corte-me a cabeça,
E não terei mais pensamento.
Tampouco medo.

Queroacreditar aqui é uma palavra só: verbo transitivo direto.
Queroacreditar na falácia não-tenho-telhado-porque-não-chovo.

E verbos defectivos são o máximo.

brainstorm nº1

Seja bem vindo à minha cabeça. cuidado onde pisa, pois é escuro. o departamento de iluminação está providenciando reparos. está sendo desenvolvido um thoughtcatcher. não confunda com aquela comédia do stephen king. um cara muito estranho senta do meu lado: quase que erra o banco, não pergunte-me como. eu quero algo que funcione de fato. nada daqueles trecos artesanais místicos. se possível, que o pensamento já se salve como rascunho no blog. afinal, a idéia basica do design é não atrasar a vida. se puder facilitar a gente agradece. acho que o ônibus não tem porta de saída: só vejo entrar gente. sair que é bom, nada. fiquei uma porrada de tempo pra sentar e escrever as palavras que só não saiam da cabeça porque nela não tem porta de saída também. além do mais, elas têm medo. então tenho que empurrá-las pro papel à tinta. e não à força. vai acabar a folha. as próx (erro na leitura) as palavras se perderam ao procurar folha vazia. parei pra ler o que havia escrito no primeiro ônibus incompleto. só não continuo pois o momento passou. ao contrário do ponto onde tinha que saltar. assim como esse agora. eis que surge a porta de saída! devo ser o primeiro a passar por ela.

terça-feira, 24 de abril de 2007

três

Que susto! Acho que era só um sonho... Gente, que horas são??, lançando um olhar desnorteado para o quarto, procurando por meu celular. Depois de poucos segundos percebi que a tarefa necessitaria um pouco mais de minúcia. Sem fazer movimentos bruscos consegui me desvencilhar do braço que me, ao mesmo tempo, aconchegava e prendia. Vesti a calcinha que, embolada no canto mais longe o possível do quarto, trazia impressões da noite anterior. Sede... Apesar de nos conhecermos há pouco tempo, acho que posso buscar-me um copo d'água.

Casa três é aquela lá do fundo ou é a primeira? Há não-sei-quantos-anos que desde sempre me confundo. Se for contar, porém, o número de casas que entrego cartas todo dia, posso me dar ao luxo e esquecer de pelo menos metade delas no dia seguinte.

Fui até a cozinha pensando onde nós iamos dar. Não gosto de água muito gelada, mas o calor me obriga a colocar, no copo, tanto gelo quanto água. O relógio marcava nove e sete da manhã. Acho que não dormi nem três horas! Fiquei mais cansada agora.

E aí, meu camarada! Não te encontrava há um tempo por aqui, hein?! Pois é, me demiti três meses atrás, mas agora voltei... Estava de saco cheio de entregar jornais todo dia de manhã! Hahaha, isso explica a hora que chega pra... E no gesto de impulso com a embalagem do periódico, o carteiro perguntou: Vais jogar o jornal pela janela?? Ah, sempre faço isso!, disse o entregador acertando-o na fresta da janela, entreaberta à três metros da calçada.

Sentei na copa para chupar o resto do gelo que derretia ininterruptamente, quando ouvi um barulho na sala. Pulei da cadeira, esquecendo completamente do cansaço: o que foi isso??? Escondi-me na cozinha a esperar o que sucederia o segundo susto do dia. O interfone, para aumentar um pouco a estranheza dos acontecimentos, soou alto naquela manhã. Entrei em pânico, pensando no homem que viria com uma arma-desse-tamanho me matar. Após um minuto apocalíptico, ele apareceu. O braço que me aconchegava. Que me prendia. E que, agora, me tentava acalmar. Eu disse alguma coisa absolutamente sem nexo, afobada. Aos poucos fui aprendendo novamente a compor frases com verbos, porém carentes de pontuação: ouvi um barulho na sala aí tocou o interfone corri pra junto da geladeira aí fiquei escondida caso viesse alguém aí... O interfone insistiu mais uma vez, um pouco mais alto que da primeira. Pois não?, atendeu o homem de braço aconchegante. Ok, um minuto por favor! Após enganchar o interfone: é o carteiro! Mas ouvi algo dentro da sala, cuidado!, insisti, vendo-o descer pelo corredor em direção à sala. Fiquei a espreitar, sorrateira, da porta da cozinha. A janela está aberta... deve ter batido com o vento!, ouvi a voz dele calmamente ao longe. Ainda assustada fui correndo colocar mais algumas peças de roupa, para ver com os próprios olhos que tudo estava bem.

Assina aqui, aqui, e - disse o carteiro, virando o papel - aqui...

Chegando na sala, o vi conversando com alguém à soleira da porta. Ufa! Com passos animados me aproximei da porta para cumprimentar meu ladrão imaginário: pai???

sexta-feira, 20 de abril de 2007

todo mundo é realista. ser pessimista ou otimista é apenas uma questão de estilo.

Volta e meia ouço: "Ai, você é muito pessimista!". As formas variam de assunto a pessoa. Umas menos bichas, outras mais indignadas, surpresas ou até concordantes. E, chato como de uso, me ponho a debater o significado da afirmação interlocutora. Parênteses: podemos pré-estabelescer que termos de grandeza não se discute, assim como o gosto. Passando pelo termo pessimista e indo até o final do escuro "Beco Formação de Opinião", devo afirmar que a personalidade de cada um é inadvertida, inconsciente, inevitável e socialmente construída. Como disse, o beco é escuro. Ou seja, em termos simples: você é o que absorveu durante a vida. O fato de ser pessimista ou otimista não existe. Se é realista. E daí, um ponto de vista sobre um assunto em particular, esbarrando pelo estado emocional desequilibrado de todo e qualquer ser humano, tende ao pessimismo ou otimismo.

crítica

Pior que os artistas são os críticos.

Estes entendem de algo, o mínimo o bastante, para elaborar críticas coerentes, porém carecem de criatividade o suficiente, até, para criar coragem, expor suas vísceras e colocar a cabeça na quilhotina: enfrentar a crítica.

domingo, 15 de abril de 2007

déjà vu

Ainda não consegui entender.

Metalinguagem: tive um déjà vu em que na situação déjà vista estava tendo um outro no qual imaginava que teria outro novamente.

"It was a new day, yesterday. But it's an old day now." A New Day Yesterday - Jethro Tull.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

conta pra mim

Conta pra mim, conta. Aquilo que o jogo Se engarrega de esconder. Conta pra mim O que se passa no verde, No vermelho, E no céu Quando olha-lhe sobre nós. Conta. O medo só pode esconder O que pode prosseguir. Inibe O que pode existir E concede O que podia restringir. Então, Conta pra mim.

Conta pra mim, conta. Aquilo que o jogo Se engarrega de esconder. Conta pra mim O que se passa no verde, No vermelho, E no céu Quando olha-lhe sobre nós. Conta. O medo só pode esconder O que pode prosseguir. Inibe O que pode existir E concede O que podia restringir. Então, Conta pra mim.

Conta pra mim, conta. Aquilo que o jogo Se engarrega de esconder. Conta pra mim O que se passa no verde, No vermelho, E no céu Quando olha-lhe sobre nós. Conta. O medo só pode esconder O que pode prosseguir. Inibe O que pode existir E concede O que podia restringir. Então, Conta pra mim.

Conta pra mim, conta. Aquilo que o jogo Se engarrega de esconder. Conta pra mim O que se passa no verde, No vermelho, E no céu Quando olha-lhe sobre nós. Conta. O medo só pode esconder O que pode prosseguir. Inibe O que pode existir E concede O que podia restringir. Então, Conta pra mim.

Conta pra mim, conta. Aquilo que o jogo Se engarrega de esconder. Conta pra mim O que se passa no verde, No vermelho, E no céu Quando olha-lhe sobre nós. Conta. O medo só pode esconder O que pode prosseguir. Inibe O que pode existir E concede O que podia restringir. Então, Conta pra mim.